segunda-feira, 18 de maio de 2009

Avaliação 2: Análise crítica dos textos - "A Rede e o Ser", de Manuel Castells; Debate entre Paul Starr e Steven Johnson; Vídeo "Epic - 2015".

Tecnologias da informação: transformando a sociedade.







A sociedade contemporânea sofre transformações intensas e significativas. Os avanços tecnológicos ajudam a configurar um novo modelo de sociedade, contribuindo, também para a modificação das relações interpessoais, interculturais e intersociais. Podemos observar essa nova configuração social, promovida em larga escala, atualmente, pela internet, através da análise de alguns dados históricos. Esta remodelação social é decorrente das mudanças intelectuais, da ruptura de estruturas seculares de pensamento e organização social e que, por isso, geram novas tecnologias.
A revolução promovida pelas novas tecnologias da informação, a convergência das mídias, em ritmo acelerado, remodela a base material da sociedade. Essa nova configuração gera uma sociedade em rede, ligada pela internet, o que gera, em conseqüência, uma interdependência global da economia, uma nova relação entre Estado, economia e sociedade. Por outro lado, essa interligação promove, também, maior fluidez e liberdade no trânsito da informação.
Fatos, como o fim da guerra fria, promoveram a alteração da geopolítica mundial, além da reconfiguração do capitalismo. O capitalismo tradicional sofre, também, profunda transformação. Surge o capitalismo informacional, decorrente dessa interligação global, fazendo da informação uma mercadoria valiosa. A maior facilidade de gerenciamento, a descentralização das empresas, ao passo que há uma interligação em rede promovida interna e externamente, são características desta nova configuração. Um maior fortalecimento do capital, ao mesmo tempo que há uma desvalorização do movimento trabalhista, diversificação e individualização das relações de trabalho, também são exemplos deste processo de transformação, além do aumento da concorrência econômica entre empresas, o que promove uma concomitante mudança no cenário geopolítico e cultural para o acúmulo de capitais.
Há, com esta interligação em rede, uma intensificação da globalização, aumentando as instituições que a utilizam em seu benefício. Atualmente, até as instituições criminosas tornam-se globais e têm ligação com outras instituições de todo o mundo. O sistema de comunicação, cada vez mais digital, aumenta esta integração global da cultura, economia, política, etc. Porém, esta alta divulgação acaba, também, personalizando a informação ao gosto do público, perdendo, portanto, o seu tom autêntico.
Tudo isso é promovido, ao longo da história, pelas mudanças sociais que impactam sobre esta revolução tecnológica e econômica. A mudança das relações sociais, por exemplo, as transformações instituídas pelo feminismo, como o fim do patriarcalismo, a inserção da mulher na vida social, redefinem os sistemas sociais e, portanto, a consciência individual, que passa a buscar novos desafios de evolução humana, como, por exemplo, a busca por novas tecnologias. No entanto, estas mudanças sociais se desenvolvem de maneira desigual, o que acentua estas desigualdades, também, na revolução informacional.
Estas mudanças geram uma tendência à reagrupamento em identidades primárias, como o religião. Esta busca identitária, torna-se a fonte básica de significado social, já que há uma individualização do homem, deslegitimação das instituições, enfraquecimento de expressões culturais, que acabam virando instituições efêmeras, e uma desestruturação das organizações. Institui-se, então, uma ruptura, uma oposição entre a “Rede e o Ser”.
As tecnologias da informação começam a se reestruturar nos anos 70, em decorrência da inovação individual, da disseminação da liberdade, proveniente da cultura hippie dos anos 60. A tecnologia sofre involuntariamente com as conseqüências sociais. A internet, por exemplo, surge no contexto da guerra fria, para impedir a tomada dos sistemas de comunicação dos norte-americanos pelos soviéticos, mas acaba assumindo uma posição e função gigantesca dentro da sociedade.
Porém, a tecnologia não determina a sociedade, ela a incorpora, assim como a sociedade não a determina (mas pode sufocar seu desenvolvimento), utiliza-a. A sociedade só pode ser entendida através de seus processos tecnológicos, eles fazem parte de sua constituição como sociedade. Deve-se localizar estes processos tecnológicos no contexto social em que eles ocorrem e pelo qual foram moldados.
Partindo desta análise inicial e articulando estas novas mudanças com o vídeo “Epic – 2015”, que imagina, de acordo com o mundo contemporâneo, traçando rapidamente a história da internet, como será a vida nos anos que se seguem até o ano de 2015, podemos avaliar em larga escala o impacto destas transformações no contexto dos processos da informação. Este vídeo supõe a já certa hipótese de que haverá uma infinidade de possibilidades, variedades e extensão da informação, em que todas as pessoas contribuirão, de alguma forma, para criar um agente jornalístico dinâmico, diferente da imprensa que se institui nos dias atuais.
Esta nova representação da informação se constrói a partir do final do século XX, em 1989, quando Tim Bernes-Lee, cientista da computação, inventou o World Wide Web (www), que em português significa “Rede de Alcance Mundial”, um sistema de documentos em hipermídia (vídeos, sons, hipertextos e figuras), interligados e executados na internet. A partir de 2004, tudo começa a se transformar ilimitadamente, de maneira grandiosa e sem fronteiras, o que acaba dando a impressão de assim ser infinitamente. A evolução destas transformações cria uma vida digital, um novo universo onde as pessoas se socializam virtualmente. Emails com espaços gigantescos de recepção, programas de mapeamento do mundo em tempo real, aparelhos de mídia portáteis, funcionalidade ilimitada e assim por diante.
Analisando estas questões pragmaticamente, podemos observar as mudanças dos meios de comunicação, proporcionada, principalmente, pela internet; a revolução tecno-informacional. Hoje, as notícias podem se acompanhadas pela internet em tempo real e sem cortes, já que a televisão, o rádio e os jornais impressos se submetem à programação organizada e estruturada, o que impede que a notícia seja veiculada na íntegra. Além disso, há uma nova modalidade do jornalismo, o jornalismo participativo, que permite que qualquer pessoa possa comentar a notícia que lê. Isto nos leva a crer que, daí por diante, haverá uma “crise” da informação, já que isto evoluirá para a possibilidade de qualquer pessoa noticiar qualquer fato, conduzindo a uma verdadeira “Guerra das Notícias” (termo utilizado pelo vídeo ora citado). Os jornalistas profissionais perderão sua funcionalidade e qualquer pessoa poderá assumir sua posição. Segundo o vídeo “Epic”, supostamente a partir de 2010, nenhuma organização realmente jornalística participará da notícia.
A competição entre empresas gera evolução em pesquisas na área digital e, com isso, melhoramentos das tecnologias rapidamente. Isto torna a notícia mais relevante do que nunca. A internet promove, também, o acesso com outros meios de comunicação que não os de costume, o que a leitura de um jornal, por exemplo, não proporciona. Isto significa que ao navegar na internet, posso ter contato com diversos jornais com opiniões e estilos diferentes ao mesmo tempo, inclusive ver vídeos dos acontecimentos na hora e no local que quiser, enquanto que com a leitura de um jornal impresso, tenho contato apenas com um posicionamento da notícia.
A revolução tecno-informacional gera diversos conflitos de opinião sobre sua configuração. A internet amplia o número de “vozes” sobre as notícias, proporciona acesso a informações de questões locais e globais a todos os tipos de público que tenham interesse nelas. As informações serão mais valiosas, por causa da maior cobertura e de um maior volume de informações que a internet promove. Já os jornais impressos, há muito tempo vêm colocando informações apenas em âmbito global, o que não atende às necessidades locais. Porém, os jornais não irão desaparecer com todas estas mudanças tecnológicas acima citadas, apenas deixarão de ser dominantes.
Por outro lado, não podemos esquecer a importância atual e histórica dos jornais impressos com sua estrutura tradicional dentro de sua funcionalidade social principal: a de tentar primordialmente formar um público consciente (pelo menos em teoria). Esta nova configuração do acesso e divulgação da informação põem por terra os antigos recursos para fazer jornalismo e, até então, não estabelece nova forma para fazê-lo. Paul Starr, sociólogo da Universidade de Princeton nos Estados Unidos, em texto conflituoso endereçado a Steven Johnson, um dos piorneiros da internet, desenvolve um debate com ele sobre o assunto e utiliza a metáfora de que: “Se uma região de um país sofre chuvas pesadas e outra enfrenta uma estiagem, a presença de chuva em algumas áreas não me faz inferir que amanhã os desertos vão verdejar - não sem irrigação, pelo menos.”. Isto significa que o fato de a nova formação das mídias promover maior fluidez, rapidez e acesso à informação, não significa que os recursos para se fazer jornalismo surgirão imediatamente acoplados a elas. O desenvolvimento e o surgimento de novas mídias se dá através da história e são regidos, sobretudo, por forças econômicas e políticas.
A internet enfraquece a capacidade da imprensa de auxiliar na produção de um jornalismo para serviço público, pois a democracia só é possível por causa da cobertura noticiosa e sem uma imprensa independente que cobre ações dos governos, ela é prejudicada. Isto porque a crescente queda dos jornais impressos substituídos pelos jornais on-line, não é compensada por estes preencherem a lacuna formada.
Embora a internet ofereça maior acessibilidade a diversas fontes da informação, não conserva o profissionalismo tradicional do jornalismo. Além disso, com tanta informação disponível, há a formação de públicos de nicho, específicos para determinado tipo de notícia, já que o público que gosta de política, por exemplo, vai diretamente em busca daquilo que quer saber. Promove a formação de uma sociedade de informação estratificada. Isto, limita a extensão da notícia, ou seja, não garante que o público em geral consiga ter acesso a ela. Limita, também, a conscientização sobre qualquer assunto que não seja de interesse daquele determinado público, uma forma de alienação das informações públicas. Ou seja, há uma privatização do jornalismo.
Blogs, sites que reproduzem sites, não formam público consciente, pois não atribuem qualquer senso de confiabilidade na fonte da informação, além de violarem direitos autorais (esta violação não atribui utilização justa por conta da disseminação da informação, mesmo que alguns teóricos assim a justifiquem.). Deve-se haver uma preocupação com o jornalismo profissional de serviço público, para ocasionar na conscientização crítica do espectador e para gerar responsabilidade pública. Engajar o público necessita da identificação dos acontecimentos e que se aponte o significado dos fatos. Isto não acontece com a mera reprodução da informação, ao contrário, passa-se uma falsa impressão de informatividade. Um site que reproduz notícias de outro site não se preocupa em gerar essa responsabilidade política que um jornal com a notícia autêntica tem (repito, pelo menos em teoria).
A leitura de um jornal, por mais que seja endereçada a uma determinada seção, garante que, em alguma parte, pelo menos de relance, as manchetes de outras notícias sejam lidas e a informação, de alguma forma, seja alcançada. Isto varia, porém, segundo o nível de renda e instrução do público. O jornalismo deve se basear nessa função social e se apoiar nas novas formas de jornalismo adaptadas a era digital, aproveitando suas vantagens.
A solução se dá através do investimento de instituições em jornalismo investigativo e, também, em outros de seus ramos, com novos modelos econômicos que o financiem. Além disso, políticas de regulação deveriam fortalecer o jornalismo local, para suprir, também, as necessidades microrregionais. Adaptando-se à era digital, políticas públicas deveriam investir, também, em licenças para notícias sujeitadas às novas tecnologias, como celulares com vídeo, por exemplo. Isto promoveria a decomposição da notícia para divulgação imediata, e não a conjunção delas para divulgação em matérias de narrativa longa.
Tudo isso, atenderia à demanda do internet, o que atenderia, também, à inovação do jornalismo sob seus moldes de função tradicional. Porém, mesmo que haja uma adaptação do jornalismo às novas tecnologias de modo satisfatório, isso não sanaria o problema da falta de interesse do público pelos problemas da esfera pública, problema este que, agora se configura sob novo formato, da descentralização da informação.
Não há dúvidas de que há uma nova configuração da sociedade, embora hajam controvérsias sobre seus métodos e ações. Esta nova configuração define um mundo multicultural e interdependente, que, segundo Manuel Castells, “só poderá ser entendido e transformado a partir de uma perspectiva múltipla que reúna identidade cultural, sistemas de redes globais e políticas multidimensionais.”. Mas não é possível prever se a internet suprirá a função social dos jornais impressos em todos estes âmbitos já citados, mesmo que a internet atualmente já se confunda com a própria vida humana. A sociedade torna-se intimamente dependente de seus artifícios que não consegue mais conviver sem ela. Seus métodos devem ser estudados com afinco para que esta nova sociedade em formação seja mais preocupada com os problemas públicos e menos individualizada em seus “orkuts”, “messengers”, “blogs”, em suma, em sua vida digital.
Não há dúvida, também, das vantagens promovidas pela conectividade com o mundo que as tecnologias da informação promovem. As facilidades de acesso à informação, porém, não devem se sobrepor à racionalidade, ao senso crítico individual, que, aos poucos, vai se esvaindo. A facilidade de acesso promove, também, a facilidade de compreensão, interpretação e formação de opinião. Ao mesmo tempo que há uma individualização, há, também, uma formação um pouco massiva da sociedade. Jovens seguem modismos, culturas internacionais das quais têm notícia, vivem a vida digital como se fosse a vida real, deixam de conversar pessoalmente para conversar pelo “msn”. Esta nova sociedade precisa viver mais a vida real.

Texto de autoria de Elisa Bastos Araujo
18 de maio de 2009.





REFERÊNCIAS:


CASTELLS, Manuel. The rise of the network society. Tradução: Roneide Venâncio Majer. São Paulo. Editora Paz e Terra S.A. 1999.


Trecho do debate entre Paul Starr e Steven Johnson. Texto na íntegra na "Prospect". Tradução: Clara Alain.